Um livro necessário

Quando o artista (ator, diretor, produtor, escritor) Lázaro Ramos publica o livro “Na minha pele” (Objetiva, 2017), abre a possibilidade de discutirmos e refletirmos sobre o racismo que sorrateiramente encontra-se entre nós.

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A dimensão que Lázaro alcança pelo conjunto de sua obra artística, ainda que não queira que suba à cabeça ou que seja uma exceção à regra, num país onde mais de 50% da população são de negros, gera uma notoriedade que traz um chamado e a importância deste lugar para as gerações que estão e as que virão, por isso é um livro necessário.

O livro não pretende ser autobiográfico e não é, não pretende ser panfletário e não é, não pretende ser acadêmico e não é.  Então, o que é? É um convite ao diálogo sobre a pluralidade em que habitamos ou deveríamos habitar. Mas, parece-nos também ser um “acerto de contas” (não que haja necessidade, mas pode ser pelo chamado) com o passado, resgate de sua história e do racismo disfarçado; com o presente, de colocar o tema em debate, inclusive com muitos jovens negros que nas redes sociais assumem quem são; e com o futuro, a paternidade que questiona o quanto estamos contribuindo, de fato, para um mundo mais livre e igualitário.

O tema do racismo é difícil por sua invisibilidade na sociedade, pela pseudocordialidade entre as etnias no cotidiano marcada pelo “todos somos iguais se cada um souber qual é o seu lugar”. E, magistralmente, Lázaro vai nos mostrando, sem vitimismo ou exceção, que nosso lugar é onde quisermos estar, porém ainda fruto de muita luta individual.

Entretanto, está lá no livro que isto tem mudado com essas gerações do tombamento que assumem e reivindicam suas negritudes e seus lugares no mundo, fortalecendo a luta por uma sociedade mais plural e igualitária. Neste sentido, o livro de Lázaro contribui para fortalecer e ampliar o diálogo, ao revisitar o passado e questionar o presente, sendo uma ponte para o futuro que desejamos construir.

Há ainda muito o que caminhar, mas temos dados passos importantes e estamos mais próximos, além de não estarmos tão sozinhos. O livro é leitura necessária em todas as escolas públicas (onde está parte da população negra) deste país, para que crianças e jovens negros reconheçam suas representatividades, suas potências e seus direitos de serem quem são e de terem orgulho de suas histórias.

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